A arte de escrever mal

Imagem: DM/ChatGPT

Com mais de 50 anos de quilometragem com editor, eu conheci jornalistas que escreviam muito bem, outros escreviam corretamente, outros escreviam mal, e alguns escreviam muito mal.

Escreviam (e alguns ainda escrevem) tão mal, mas tão mal, que parecia haver naquela escrita uma arte, uma fórmula para maltratar os leitores com frases cheias de vaidade e vírgulas, vírgulas, vírgulas que pareciam nunca achar um ponto.

Pedi ao meu parceiro ChatGPT que fizesse um desses textos torturantes para efeito de sátira. Saiu em um segundo:

"A filosofia, enquanto enigma do ser que se desdobra em múltiplas camadas de significância inapreensível, revela-se, por meio da constante abstração da realidade tangível, como um exercício de pensamento que, embora profundamente enraizado na tradição ocidental e também oriental em seus ecos não traduzidos, nos impele a considerar, sem necessariamente concluir, que a essência do existir, na medida em que escapa à definição, torna-se objeto de contemplação perpétua, sendo o ser não um ente, mas talvez, e somente talvez, um reflexo do nada ou uma projeção do tudo, o que nos leva inevitavelmente a crer, ou a duvidar, que toda tentativa de compreender o ser é, no fundo, uma maneira de fugir do não-ser, ou de confundir o vir-a-ser com o ter-sido, pois ao analisarmos, incessantemente, o fluxo do tempo, a presença do eu, a alteridade do outro, a imanência daquilo que é e a transcendência daquilo que não é, nos perdemos num labirinto de conceitos que, articulados de maneira vaga, hermética e propositalmente circular, sustentam uma retórica pomposa que, embora apele ao rigor lógico, acaba se dissolvendo em digressões que, longe de esclarecer, apenas reiteram a ideia de que pensar é, talvez, não mais do que uma performance da dúvida, um balé de ideias que, mesmo que não digam nada, ainda assim se estendem, se prolongam, se arrastam, e permanecem, porque o silêncio, afinal, seria menos elegante".

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The art of writing badly

With over 50 years of experience as an editor, I have met journalists who wrote very well, others who wrote correctly, others who wrote badly, and some who wrote very badly.

They wrote (and some still write) so badly, so badly, that there seemed to be an art to their writing, a formula for mistreating readers with sentences full of vanity and commas, commas, commas that never seemed to find a point.

I asked my partner ChatGPT to write one of these torturous texts for satire purposes. It came out in a second:

"Philosophy, as the enigma of being that unfolds in multiple layers of ungraspable significance, reveals itself, through the constant abstraction of tangible reality, as an exercise of thought which, although deeply rooted in the Western tradition and also in the Eastern in its untranslated echoes, compels us to consider, without necessarily concluding, that the essence of existence, insofar as it escapes definition, becomes an object of perpetual contemplation, being not an entity, but perhaps, and only perhaps, a reflection of nothingness or a projection of everything, which inevitably leads us to believe, or to doubt, that every attempt to comprehend being is, at its core, a way of fleeing from non-being, or of confusing becoming with having-been, for as we incessantly analyze the flow of time, the presence of the self, the otherness of the other, the immanence of what is and the transcendence of what is not, we lose ourselves in a labyrinth of concepts which, articulated vaguely, hermetically, and deliberately circular, sustain a pompous rhetoric that, although appealing to logical rigor, ends up dissolving into digressions that, far from clarifying, only reiterate the idea that thinking is, perhaps, no more than a performance of doubt, a ballet of ideas that, even when they say nothing, still stretch, prolong, drag on, and remain, because silence, after all, would be less elegant".